Em 10 de outubro de 1972, desci no Aeroporto Internacional de Viracopos, na cidade de Campinas, em São Paulo. Lembro-me que chovia torrencialmente naquele dia e me assustei com as condições do aeroporto: isolado, localizado em meio a uma densa vegetação, nada parecido com os outros que conheci.
|Sem saber ao certo onde estava e sem falar ou entender uma palavra em português, segui os demais passageiros até chegar ao portão de desembarque, onde ouvi uma voz dizer “OSSU”. Só então senti que estava no aeroporto de Viracopos de verdade, e me veio a lógica de que São Paulo era um lugar amplo e repleto de oportunidades.
Minha maior surpresa aconteceu chegar ao centro de São Paulo e me deparar com altos prédios aglomerados e uma infinita quantidade de carros correndo para todos os lados. Pela primeira vez em minha vida, fiquei inseguro. Estava fadado a ficar num país desconhecido, cujo idioma não sabia nem uma palavra.
Porém, com o tempo, passei a conhecer os costumes do Brasil, e os próprios alunos da academia me ensinaram o idioma português. Hoje, posso dizer que meu maior aprendizado foi o de gostar deste país que é vinte e cinco vezes maior que minha terra natal, o Japão.
Descobri que, no Brasil, a lei é o calor humano. Aqui, reina o homem, enquanto que, no Japão, o homem concorre com o tempo e com as máquinas. Aos poucos, percebi que o povo daqui jamais seguiria os princípios japoneses, o que me fez tomar a primeira grande decisão: ficaria no Brasil de três a quatro anos e, depois, retomaria a meu país de origem.
Passados seis meses, coloquei-me em xeque novamente. Lembrei as palavras do mestre Mas. Oyama:
“O que você vai fazer voltando a um país tão pequeno e apertado se aí, no Brasil que é 25 vezes maior, é certo que terá mais chances? Gostaria que você ampliasse os princípios do Kyokushin na América do Sul e que se servisse de base para a introdução desta atividade…”.
Comecei a pensar também nas palavras meus alunos brasileiros:
“Já estávamos acostumados com seus métodos. Se ficar apenas quatro anos conosco e, depois, retornar ao Japão, nos encaminharão um outro e nós nunca saberemos em quem confiar ou de quem seguir os passos…”.
Resolvi, então, fazer uma aposta comigo mesmo. Veria até onde conseguiria chegar e o que conseguiria fazer para que o Kyokushin se tornasse conhecido por todos.
Em agosto de 1973, meu objetivo estava traçado.
A partir de então, passei a me dedicar intensamente à descoberta de meios para aprimorar o ensino do Kyokushin e fazer com que os adeptos confiassem em mim e seguissem meus passos. Queria fazer nascer, na América do Sul, atletas de nível, capazes de enfrentar adversários de diversos países.
Após anos de árduos treinos e de convivência com vários alunos, surgiram muitos e esplêndidos praticantes, mas ninguém conseguiu superar ou mesmo se igualar ao nível técnico de dois atletas: FRANCISCO FILHO e GLAUBE FEITOSA.
Desde o início, ambos cresceram como grandes atletas, disputando as primeiras posições com karatecas de nível internacional. Em 1999, Francisco Filho sagrou-se campeão mundial, concretizando, assim, um de meus objetivos quando vim ao Brasil.
Filho e Feitosa deixaram um caminho a ser trilhado por outros brasileiros, como Ewerton Teixeira, por exemplo, franco favorito a vencer o mundial de 2007.
Mas, para fazer com que os competidores brasileiros atingissem esse nível, e se tornassem atletas renomados e de grande respeito, além de meu empenho, foi fundamental o apoio do coronel REIZO NISHI. Não poderia deixar de citar, ainda, o amigo de mais de trinta anos, capitão MÁRIO UETI.
Agradeço, também, à família OKAMOTO pelos conselhos e, principalmente à família que constituí aqui no Brasil, que soube me compreender sem contradizer minhas reclamações.
Devo ressaltar o amparo recebido por parte de todos os superintendentes desta modalidade, instrutores e alunos que participam ou um dia participaram da família Kyokushin.
Fonte: www.kyokushin.com.br